Thứ Năm, 8 tháng 10, 2015

O pesadelo das lesões e o sistema de treinamento da seleção feminina


O Mundial chegou e o Brasil tem que lidar com uma questão muito mais séria do que a classificação olímpica: por que tantas ginastas estão lesionadas? Fora as fatalidades, outros aspectos devem ser analisados. Milena Theodoro, Rebeca Andrade e Julie Kim fazem parte das ginastas que se lesionaram esse ano e que poderiam fazer do Mundial de Glasgow uma classificação olímpica tranquila.

Muitos anos atrás, o modelo de treinamento em ginástica artística feminina a se seguir era o modelo soviético. O modelo de seleção permanente. O modelo que controla a vida da ginasta por completo: escola, saúde, alimentação, família, treino, relações pessoais, etc. O mundo inteiro copiava a extinta União Soviética enquanto ela existiu porque era esse o modelo que funcionava: as soviéticas eram as melhores do mundo. Devagar, outras campeãs foram surgindo, assim como novos modelos de treinamento.

A seleção permanente era um método relativamente fácil de se executar dentro do regime soviético, já que, com a quantidade de países que lidavam, era possível ter um número maior de meninas para que "sobrassem" apenas as que sobreviviam ao método arcaico. Alexander Alexandrov e Oleg Ostapenko trabalharam durante muito tempo como treinadores das seleções soviéticas e fizeram parte do sucesso das equipes.

Apesar do sucesso, esse é um padrão perigoso a seguir. Pode ter funcionado muito bem os países europeus, mas no Brasil os resultados mostram que a situação é bastante complicada. O sistema de treinamento usado por Oleg Ostapenko, entre 2001 e 2008, e por Alexander Alexandrov, desde 2013 até agora, trouxe resultado e medalhas, mas o preço pago foi muito alto. Você já se perguntou por que antigamente as ginastas tinham seu auge com 15 ou 16 anos e depois o rendimento caía drasticamente, forçando as mesmas a pararem e darem lugar para a próxima juvenil de 14 anos? Já se perguntou por que raramente participavam de mais de uma Olimpíada? Por que hoje no mundo temos ginastas com mais de 25 anos competindo normalmente a ainda conseguindo medalhas?

A maioria dos opinadores que defendem a seleção permanente de acordo com os resultados que o Brasil teve na "Era Daiane" não sabem como foi o processo até chegar às principais ginastas daquele ciclo: Lais Souza, Daiane dos Santos, Daniele Hypólito, Jade Barbosa, Ethiene Franco e Ana Cláudia Silva foram as que sobreviveram. Lais Souza passou por várias cirurgias assim como Daiane dos Santos. Khiuani Dias, um dos principais nomes para a equipe Olímpica de 2008, acabou lesionada e substituída pela inexperiente Ethiene. Ana Cláudia até que tentou continuar depois de 2008, mas as lesões cirurgias e lesões não a deixaram em paz. Sem contar a Jade, que ficou com um problema no punho durante anos. Para chegar nesse número ínfimo de boas ginastas e cheias de pinos (apenas 7), várias outras talentosas ficaram para trás.

Por quais motivos? Quando decidiu-se juntar todas as ginastas talentosas na seleção permanente em Curitiba, praticamente todos os clubes do Brasil perderam suas ginastas. Ficaram zerados, sem espelho, sem categoria de base, sem material de trabalho. A maioria das ginastas, que eram excelentes em seus clubes, acabaram sem notoriedade nenhuma em Curitiba. Agora elas eram ruins de ginástica, não serviam mais. Choravam muito. Mas isso não era problema: os coordenadores tinham ginastas para "descartar" assim que houvesse a primeira lesão, a primeira crise emocional, a primeira saudade de casa. Era uma pressão constante, de domingo a domingo. Funcionou? Podemos dizer que deu resultado, classificou a equipe para as Olimpíadas, deu uma medalha de ouro no solo para Daiane assim como não deixou nenhum legado. O preço pago para a classificação olímpica em 2008 foi alto: lesões, traumas emocionais e um buraco juvenil para o ciclo 2008-2012.

Apesar dos erros passados, a situação da ginástica feminina do Brasil volta a ser remediada pela seleção permanente. Situação passageira, que dura enquanto a ginasta consegue se manter saudável, e não dá diretrizes para um trabalho continuado da ginástica no país. Chegar na categoria adulta sem nenhuma lesão séria é praticamente impossível. Corre-se muitos riscos quando se assume esse sistema de trabalho com uma seleção.

Quando Alexandrov chegou ao Brasil, promessas de treinamento continuado nos clubes, sob a supervisão dele, parecia algo surreal. Seriam feitos campings de treinamento onde ginastas e treinadores seriam convidados para participarem de acordo com o ranking do Campeonato Brasileiro. Poderiam executar suas tarefas nos clubes e essas seriam fiscalizadas na próxima convocação de treinamento. Alexandrov, que é um treinador e um estrategista excelente (além de possuir muito domínio do código de pontuação), também faria visitas aos clubes e centros de treinamento. Isso tudo seria muito interessante: as ginastas não perderiam seus contatos com a família, amigos e treinadores pessoais e continuariam mantendo suas rotinas de vida como sempre foi. O diferente seria os profundos conhecimentos técnicos de Alexandrov adicionados ao treino.

Ao invés disso, caímos no treino de segunda a segunda. Caímos na rotina de treinar o dia inteiro e repetir séries exaustivamente. As limitações físicas não são respeitadas: repetição após repetição de exercícios acontecem até a ginasta chegar num overtraining. O corpo não aguenta! Esgotamento físico total, principalmente se o corpo estava condicionado de outra forma. O emocional abalado ajuda a piorar as coisas. A ginasta, cansada, pede para parar. O treinador pede que ela executa mais uma vez. Aí acontecem as lesões.

A seleção feminina hoje está trancada no Centro de Treinamento. Moram juntas num condomínio, acordam e vão para o ginásio. Almoçam no ginásio, estudam no ginásio e só voltam o condomínio quando o treino acaba. Ninguém assiste os treinos. Alguns dias os treinos são abertos para a imprensa e só. Não há como negar que o nível técnico melhorou demais e que estavam totalmente aptas a conseguir a vaga olímpica, mas as lesões deixaram a classificação completamente duvidosa. Hora de questionar: valeu a pena?

Hoje os clubes estão desamparados. Estão desprovidos de suas principais ginastas - espelhos para as mais novas - e treinadores, que estão trancados no CT. Apesar do CEGIN hoje funcionar como um clube, o sistema de treinamento é praticamente igual ao CT. Tudo corrobora para que a seleção conte sempre com aquelas que estão lá dentro, e aqui de fora temos de cruzar os dedos para que nada errado aconteça. Temos poucas lá dentro. Todas são importantes. Se mais uma lesionar, o que pode acontecer?

Ainda ficamos tristes com o enorme número de ginastas e treinadores que estão aqui fora, sonhando em representar o Brasil, mas que nunca terão o mínimo de chance. Ou a ginasta é muito boa treinando apenas com seu treinador no seu próprio clube (Letícia Gonçalves e Luisa Kirchmayer) ou o treinador entrega ela para o CT, sendo que ela pode não aguentar e ser dispensada a qualquer momento. É muito difícil pra uma ginasta e treinador - fora CT - sonhar com algo maior do que um campeonato estadual ou nacional.

Agora fica uma questão: o que fazer para mudar essa situação? O que pode ser melhor que a seleção permanente? Voltamos ao começo do texto, quando o mundo inteiro copiava as soviéticas, melhores ginastas do mundo. É hora de voltar os olhares para quem atualmente tem o maior sucesso e as melhores ginastas do mundo. Apesar de alguns detestarem a ginástica dos Estados Unidos, os resultados e medalhas mostram quem é o maior detentor de títulos. Só pra deixar claro: não estamos falando de estilo de ginástica e sim de modelo de treinamento.

Os Estados Unidos hoje é a maior potência da ginástica feminina. Desde a última participação da União Soviética nos Jogos Olímpicos de Barcelona, aconteceram 5 Olimpíadas: Atlanta, Sidney, Atenas, Pequim e Londres. Dessas, os Estados Unidos esteve presente em todos os pódios por equipes e conquistou 2 ouros, 2 pratas e 1 bronze. Se existe hoje um modelo de sucesso que deve ser profundamente analisado, estudado e copiado, esse modelo é o americano.

Vamos usar Simone Biles como exemplo de sucesso do treinamento americano. Atualmente considerada a melhor ginasta do Mundo, e provavelmente de todos os tempos, em apenas 2 mundias já conquistou 9 medalhas incluindo 6 ouros. Bicampeã mundial no individual geral e no solo, a ginasta não passa o dia inteiro num ginásio e muito menos tem uma treinadora renomada e detentora de títulos e passagens por grandes seleções. Como pode ter conseguido ir tão longe?

Bom, quando Simone Biles apareceu no Nacional Americano representando um clube sem tradição alguma, Marta Karolyi enxergou seu potencial. Um contato brasileiro com a treinadora dela seria assim: "Nossa, sua atleta é muito talentosa a partir de amanhã ela treina no CT. Você não pode vir, mas ela será bem-vinda. Temos orçamento apenas para ela e essa é a única chance dela entrar na seleção". Ao invés disso, o que a até então desconhecida Aimee Boorman escutou da coordenadora de seleções foi: "Nossa, sua atleta é muito talentosa, queremos ajudar você e ela a crescerem. A partir de hoje vocês estão convocadas para os campings americanos de treinamento!".

Biles não teve que deixar sua família, nem sua treinadora (que estava com ela desde os 6 anos!), nem seus amigos de infância. A melhor ginasta do mundo treina em seu clube, frequenta uma escola regular e tem vida social no fim de semana. Mais exemplos: Shawn Jonhson treinava com seu técnico em seu clube apenas 4 horas por dia e frequentava uma escola regular; Bridget Sloan, campeã mundial individual geral em 2009, treinava em seu clube e frequentava uma escola regular; Samantha Peszek, vice-campeã olímpica por equipes em 2008, treinava em seu clube e frequentava uma escola regular; Alicia Sacramone, quando se tornou especialista de trave e salto depois de 2008, treinava em seu clube apenas 3 horas por dia. Não existe seleção permanente nos Estados Unidos. A treinadora de Biles e a própria Biles, se optassem por não aderir ao CT, nunca teriam uma chance no Brasil. E o nosso Brasil está cheio de campeãs mundiais em potencial!

Boorman cresceu com o conhecimento compartilhado dos outros treinadores. Todos tentaram ajudar e deram suas opiniões sobre os treinos de Biles e não "tomar" a ginasta das mãos dela. Uma vez, em entrevista, ela agradeceu o técnico Mihai Brestyan, que treina Alexandra Raisman, dizendo que ele a ajudou bastante nos conhecimentos e técnicas de solo, principal aparelho de Simone Biles. Se você assistir uma série de Biles em 2012 e outra em 2015, verá uma evolução enorme e impressionante. Chegará a acreditar que ela passou 3 anos trancada em um ginásio, excluída do resto do Mundo, apenas treinando!

Brincadeiras à parte, o Brasil merece a chance de um treinamento melhor. Lesões sempre vão acontecer, mas vamos deixá-las para os casos de fatalidade e não para o excesso de treinamento e repetição. As nossas ginastas merecem uma tentativa de terem suas vidas pessoais, seus treinadores e seus clubes valorizados. Nossos melhores treinadores estão desistindo! Alguns irão dizer que esse foi o sistema utilizado no ciclo olímpico de 2008, mas aquela tentativa frustrada e sem coordenação de treinamento em clubes não pode ser levada em consideração. Não havia um treinador chefe, o Brasil contava apenas com as veteranas que sobreviveram ao último ciclo e os campings foram menos que esporádicos.

Todos estão com o coração na mão. Todos os amantes da ginástica, assim como as ginastas e os treinadores, querem a classificação olímpica. Estamos torcendo muito, muito mesmo, mas ao mesmo tempo estamos tristes com as lesões de ginastas tão queridas e essa situação toda: treinador desistindo, treinador diagnosticado com depressão, várias ginastas se quebrando, clubes largados...

Fica a esperança para que os coordenadores da nossa seleção feminina repensem tudo. Avaliem os erros e acertos. Deem uma chance para o novo, para o moderno, para o que existe atualmente de melhor. Somos latino-americanos, calorosos, gostamos do fim de semana em nossas casas, passeando com o cachorro, abraçando pai e mãe. E que enquanto fazemos isso o nosso querido Alexandrov passe mais tempo avaliando estratégias, pensando em elementos novos e séries para as ginastas. Todo mundo feliz sem deixar de fazer o seu trabalho, se afastando de leões e tentando ao máximo trilhar um caminho de sucesso. Levanta a mão quem quer que o Alexandrov seja a nossa Marta Karolyi!!!

Post de Cedrick Willian

Foto: Ricardo Bufolin

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